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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Amuar...que cena tão chata!!!



AMUO é uma "manifestação de enfado ou de mau humor que se revela por gestos, por um silêncio obstinado ou por se evitar olhar para o seu causador".

Dito assim, até parece normal e inofensivo. Mas não é. Na verdade, é uma das cenas mais destrutivas das relações entre as pessoas, sejam elas miúdos ou graúdos.

Um testemunho pessoal, para enquadrar o tema.

O meu querido e velho pai, que perdi, inesperadamente, há dois anos, tinha o mau hábito de amuar. Recordo com grande incómodo, e algumas revolta, as refeições em família em que ele, zangado com a minha mãe ou com qualquer um dos filhos, comia em silêncio, de cabeça baixa, e respondia por monossílabos. Criança e adolescente, muitas vezes pensei que nada o justificava. Porquê fazer aquela fita? Porquê afectar todos daquela maneira? Porquê causar aquela vontade de estar noutro lado e não assistir àquela cena? Porquê obrigar todos a fingir que não se passava nada, relacionando-se de modo artificial, como numa peça de teatro mal representada? 

A verdade é que fiquei alérgica e, ainda hoje, fujo a sete pés de cenas destas. Entre casais, entre pais e filhos, entre irmãos, entre familiares, entre amigos, entre colegas de trabalho, entre chefias e colaboradores. Nãaaa, comigo não contem, não aguento mesmo!

Mas procurei a razão do meu incómodo. E encontrei algumas explicações plausíveis. Vejam lá.

Em primeiro lugar,
quem amua é como se colocasse um letreiro luminoso que anuncia a todos EU ESTOU ZANGADO. Esta publicidade pressupõe que todos se devem interessar pelo assunto ou pelo facto de estar zangado. Egoismo, egocentrismo, narcisismo, e falta de respeito pela paciência dos outros. Diria eu, se está zangado, tome um comprimido, ou vá dar uma volta, e NÃO CHATEIE!!!!

Em segundo lugar, e bem mais grave, é que o amuo provoca aquilo a que os psicólogos chamam "desconfirmação". Desconfirmar alguém é dizer-lhe "tu não existes, és transparente, não te vejo, não és importante". Porque é exactamente isso que acontece. Quando alguém bem intencionado se aproxima de um amuado e pergunta "o que tens?", a resposta é o virar da cara, um silêncio ensurdecedor ou um afastamento. E o que sente o bem intencionado face a esta reacção? Sente que a sua presença não foi registada, que não é importante, que é de tal modo insignificante que nem merece resposta. Mas vai insistindo, porque quer resolver o problema, e vai sendo desconfirmado vezes sem conta... Doi mesmo. E enfraquece e adoece quem passa por isto. Imaginem agora quando esta cena é feita sobre uma criança... 

Bem...ma
s ainda fica pior. porque o amuo é um modelo de comportamento que se copia, que é contagioso como um virus, que passa de pais para filhos, e corre dentro da empresa. Ou seja, uma criança que tem pais que amuam, aprende a amuar também, e lá vai o virus por aí fora. 

Ou travamos isto, ou corremos alguns riscos. Aqui está um video dos Gato Fedorento - O Ministro que amua. 
Ah, pois...














terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Quando a escova de dentes fala connosco...

Não, não estou a imaginar coisas. A minha escova de dentes fala mesmo comigo! Apita a cada 30 segundos, para se mudar de quadrante da boca, e abranda aos 2 minutos, tempo recomendado pelos dentistas para uma escovagem perfeita.

Aqui está a imagem da escova, e o respectivo parágrafo do manual de intruções, que não me deixam mentir.


"Um útil temporizador no cabo apita a cada 30 segundos para informar que deve passar para o quadrante seguinte da boca. A escova de dentes eléctrica informa quando tiver concluído os 2 minutos de escovagem recomendados pelos dentistas".


Falo nisto com algum espanto. 

Não é que, noutro dia, esgotei o stock de cabeças da minha escova electrica, modelo já idoso, com quatro anos. Lá fui ao Continente e... desespero! Uma série de modelos diferentes, tive de pedir ajuda, entre a impaciência e a humilhação. Gaita, era só uma escova de dentes! Lá escolhi uma cabeça que, claro, esforçou demais a idosa escova. Resultado, tive de voltar para comprar uma escova nova, sem pensar muito... 

Claro que não li as instruções, quem é que lê instruções das escovas de dentes? Pois logo no primeiro ensaio, a escova desatou a barulhar e a abrandar... Controlando a interrogação e o riso, fui ler o manual. Confirmou-se, a escova fala comigo. Ok.

E, de repente, percebi! Não é só a escova que fala connosco! Estamos rodeados de tecnologia cujo maior entertenimento é dizer-nos coisas, permanente e personalizadamente! Se não, vejam.

As boxes da TV aconselham os nossos filmes favoritos. As TVs avisam que vão desligar quando se aproxima a nossa hora de dormir. As livrarias, tipo Amazon, aconselham-nos livros, discos e filmes próximos das nossas preferências. Os motores de pesquisa, tipo Google, mobilizam-se para nos informar em que sites andámos e quais os que podemos querer pesquisar. O computador informa sobre os erros ortográficos, as actualizações em carteira, horas, alarmes, mensagens chegadas, mensagens a enviar, limpezas a efectuar. Os telemóveis, também, acrescidos de informação sobre os gastos efectuados. A caixa multibanco grita "retire o seu dinheiro". As caixas automáticas dos hipermercados dizem "coloque o artigo no saco, passe o cartão no leitor de cartões, retire o talão, obrigada pela preferência, volte sempre"...

Para não falar dos automóveis, que informam sobre tudo o que se passa, dentro e fora, luzinhas a piscar, ecrans no vidro dianteiro, e a vozinha simpática, às vezes chatinha, do GPS.

E a bola de futebol que regista os movimentos? E a roupa, que monitoriza a saúde? E a Bimby? E o forno eléctrico? E a Actifry? E o frigorífico que informa sobre as faltas de stock?

Só falta mesmo a caneta que assinala os erros, como lembrou o Nelson Trindade, que reviu este post. Dava imenso jeito aos putos, e a todos os tótós que erram nos acentos...

Pois é, meus caros. Tudo à nossa volta fala connosco. E há tanto para ouvir... Gosto.

Esqueçam lá isso do "antigamente"...