Translate

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Redes sociais...que nojo...dizem eles!

Desde Abril passado, os jornalistas lutam contra a ideia peregrina dos Partidos quererem controlar as reportagens das campanhas eleitorais. Exigem a sua Liberdade editorial, em prol da Democracia.

Muito bem.

Porém, às vezes os jornalistas recusam a Inovação, preferindo o Passado e/ou os seus velhos modi operandi. O que põe em causa a Democracia.

Muito mal.


O Jornalista do século XX 
ainda existe no séc XXI ?

É assim que vejo o ataque feito às redes sociais por Ricardo Araújo Pereira e Miguel Sousa Tavares, ao desprezarem a importância da opinião dos cidadãos expressa nesses meios, por contraposição à enorme importância dos senhores JORNALISTAS.

Seguem-se alguns testemunhos.


RAP (00:43)

Governo Sombra 03.04.2015


MST (00:35)
“Como vai ser o jornalismo nos próximos 20 anos? 19.02.2013

Como se viu, MST contrapõe a "informação basista", a dos cidadãos na Internet, à "informação de referência", a dos jornalistas. Chega mesmo a falar em “mandato de representação” dos jornalistas, mediadores entre as notícias e os seus destinatários, comparando aqueles aos deputados... "O jornalismo de referência tem de ter a coragem de ignorar por completo o que se passa na Internet"... Seriously?

O mesmo ponto de vista é  repetido por MST no Expresso de 22.05.2015 (link abaixo), no qual censura os jornais por "irem atrás das redes sociais", em vez de fazerem um trabalho jornalistico sério...

Porque a informação jornalística nem sempre presta, e as redes sociais têm muitos defeitos, os seus argumentos fazem sentido. Mas é este o cerne da questão? O jornalismo não presta porque dá importância às redes sociais? Ou há algo de mais fundo no nojo que RAP e MST têm das redes sociais?

Estas posições, que me surpreendem em duas figuras de cujo espírito democrático ninguém duvida, expressam, no fundo, a luta entre o pretenso prestígio da OPINIÃO PUBLICADA, palco dos jornalistas, e o pretenso desprestígio da OPINIÃO PÚBLICA, palco dos cidadãos anónimos. A elite versus a massa, os iluminados versus os trogloditas.

Podem fazer-se vários comentários a estas posições.

Primeiro, o jornalismo de "lixo", a que também se refere Vasco Pulido Valente (link abaixo) a propósito do gosto pelo melodramático por parte de jornais e televisões, já existia muito antes das redes sociais. Basta recordar as inacreditáveis reportagens sobre o escândalo Casa Pia, em 2002/2003, em que os mesmos videos eram repetidos em loop durante horas!

Segundo, quem é que dá, ou deu, esse tal “mandato de representação” aos jornalistas? Os cidadãos votam em alguma redacção de jornal, rádio ou televisão? Ou a eleição tem-nos passado ao lado? Sob que critério é que os jornalistas se apoderam do tempo de antena, pago pelos cidadãos, e exigem atenção exclusiva e mérito incontestado?

Terceiro, as redes sociais são um espaço de expressão da OPINIÃO PÚBLICA, instantâneo, e permitem a participação dos cidadãos na elaboração, difusão e avaliação da informação, algo inédito na História, e cuja importância é incontestável.

Porém, é verdade que as redes sociais têm os seus pontos fracos - os "comentários" são muitas vezes pouco recomendáveis, e o espaço presta-se à expressão de ódios e pode servir de palco de toda a espécie de crimes, desde o terrorismo à pedofilia e do bullying à difamação.

Todavia, é possível, hoje, ignorar a OPINIÃO PÚBLICA e a força das redes socias? Não. É preciso ir construindo um código de conduta para a sua utilização? Sim. É imprescindível saneá-las do crime? Claro. Mas que as redes socias são um dos maiores poderes do cidadão, depois do voto, ninguém tem dúvida.

Talvez RAP e MST queiram que as redes sociais sejam desligadas, como em tantos países não democráticos no mundo, que os jornalistas se fechem na sua classe profissional, purificados do contacto com os trogloditas, e avaliados exclusivamente pelos Reguladores (também jornalistas). E que os cidadãos fiquem limitados à leitura dos seus respectivos artigos, na Visão e no Expresso, caladinhos e bem comportados...

Meus queridos, aguentem-se, esse tempo já era...

Em suma, desprezar as redes sociais, hoje, é o mesmo que desprezar o Voto Universal porque os cidadãos são pouco escolarizados, como em tempos se dizia....

Finalmente, um excerto do filme Lincoln, onde os congressistas debatem a libertação dos escravos…


Lincoln (01:12)

                                              
Nem sei porque é que me lembrei de meter o Lincoln aqui. Não tem nada a ver com o RAP ou o MST, pois não? Silly me...


LINK
Miguel Sousa Tavares "O Facebook é a maior ameaça do séc XXI" (03.12.2009).
Miguel Sousa Tavares "A rendição do Jornalismo" (22.05.2015).
Vasco Pulido Valente "O lixo" (22.05.2015).
Umberto Eco "Redes sociais deram voz a legião de imbecis" (11.05.2015).
Rui Zink "Eco e as redes sociais" (15.06.2015).
Alternativa ao jornalismo de lixo, Constructive Jornalism Project.